O homem a que chamamos ZUMBI nasceu livre em qualquer ponto dos Palmares, em 1655. Talvez no começo do ano, quando a água nas cisternas é pesada e morna; talvez no meio ou no fim, quando o chão está coberto de buritis podres.

Um dia saberá bastante sobre ele. Milhares de documentos amarelos, difíceis de ler, guardam a história do preto pequeno e magro que venceu mais batalhas do que todos os generais da História Brasileira juntos. terrível às cercanias de Porto Calvo. Diziam outros que a moça lhe fora ao encontro de próprios pés; terceiros, que era herdeira de família senhorial extraviada nas brenhas vizinhas de Palmares. Até aqui, os papéis amarelados, de sintaxe arrevesada, não disseram sim ou não à legenda romântica.

Tudo começou com um Brás da Rocha que atacou Palmares em 1655 e carregou, entre presas adultas, um recém-nascido. Brás o entregou, honestamente, como era do contrato, ao chefe de uma coluna, e este decidiu fazer um presente à cura de Porto Calvo. Padre Melo achou que devia chamá-lo “Francisco”.

Não podia, naquele momento, adivinhar que se afeiçoaria ao pretinho. Se pode imaginar que não foi das piores a infância de Francisco. O padre talvez lhe batesse, como mandava a época, mas não lhe faltou alimento e remédio. “Quem dá os beijos, dá os peidos”, dizia o povo. Padre Melo o qual achava Francisco inteligentíssimo; resolveu desasná-lo em português, latim e religião. Talvez olhasse com orgulho o moleque passar com o turíbulo, repetir os salmos.

Francisco apreciava, certamente, histórias da Bíblia. Havia esta, por exemplo: Um sacerdote de nome Eli, velho e piedoso, aceitou na sua casa um menino chamado Samuel. Samuel ouviu que lhe chamavam “Samuel! Samuel!” isto foi antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do Senhor: ali dormia a Araçá de Jeová.

Samuel foi até o quarto de Eli: “O senhor me chamou? Estou aqui…”; “Não te chamei, filho” – respondeu o velho – “Torna-te a deitar.” Na terceira vez, Eli compreendeu de quem era a voz “Vai te deitar, e quando te chamarem de novo responde: Fala, porque o teu servo ouve.” Assim fez, e a voz queria que ele a seguisse; e deixou um recado para o sacerdote: que julgaria a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque fazendo-se os seus filhos indesejáveis, não os repreendeu.

Numa noite em 1670, ao completar quinze anos, Francisco fugiu. Aos quinze anos deixaria a liberdade e o conforto de Padre Melo para voltar a Palmares. Aos vinte e três anos recusou a paz que Ganga Zumba firmara com os brancos, paz que lhe garantia a liberdade pois nascera em Palmares. Aos vinte e cinco anos, incompletos, fechou, enfim, a última porta: continuaria em Palmares para combater.

Zumbi dos Palmares foi por muito tempo – até hoje no Brasil – recordista de vitórias militares.

Zumbi liderou Palmares por muitos anos. Guerreiro imbatível, venceu mais batalhas do que todos os generais juntos, da História Brasileira. Zumbi tinha uma grande diferença desses generais, que combatiam para conquistar territórios ou para escravizar. Zumbi lutava para sobreviver e não ceder à escravidão. Zumbi é o maior símbolo de resistência de nossa história. O QUILOMBO DE PALMARES resistiu aos ataques das expedições mandadas pelos seus governadores da época, quase por um século, vindo a ser destruído em 1694, pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, o qual já era exímio caçador e assassino de índios, não se sabe ao certo quantos mil índios este homem matou, no entanto sabe-se  que ele partiu contra Palmares, com toda fúria e ira, com seus canhões cuspindo fogo.

Seus soldados massacrando mulheres e crianças sem um pingo de compaixão. Zumbi e seus guerreiros lutavam como nunca, pois esta era a batalha final. Zumbi lutou até o último momento, mas foi impossível vencer os canhões de Domingos Jorge Velho.

Zumbi vendo a batalha perdida, fugiu para tentar construir um novo Palmares, mas um ano mais tarde, foi traído, vindo a ser morto nas brenhas da Serra Dois Irmãos por volta de cinco horas da manhã de 20 de novembro de 1695.

Seu corpo foi esquartejado, sua cabeça ficou exposta em uma praça em Recife para servir de exemplo para aqueles que quisessem resistir a escravidão.

Morreu, mas não se entregou ao cativeiro. E a cultura afro-brasileira está mais forte do que nunca, como a Capoeira, o Maculelê, a dança afro, o samba e muitos outros segmentos.

A Capoeira foi registrada por alguns na história do Quilombo de Palmares, por isto acreditamos que em cada movimento ou gesto da cultura afro-brasileira, Zumbi renasce.

A Capoeira é a luta de resistência, é uma luta de quebra de preconceitos. A Capoeira traz uma magia, que encanta pessoas de todas as raças e classes sociais, fazendo com que elas se integrem e construam um mundo sem preconceitos e discriminações. Era por isto que Zumbi lutava não só por liberdade, mas também por igualdade. E a Capoeira traz esta proposta, e é por isto que é impossível falar de Capoeira sem falar neste baluarte da nossa História Brasileira.

 Palmares: A última chance

Domingos, comandante do exército colonial, nunca tinha visto nada parecido em toda sua vida. Custava a crer que fosse obra de negros.

Entre o verde do mato e o azul puríssimo do céu – numa extensão semicircular de cinco quilómetros e meio – se erguia a escura muralha de troncos e pedras. Dez homens, um de pé no ombro do outro, não tocariam sua borda. Olhando melhor se descobria que não era uma, mas três muralhas – e nelas existiam redentes, guaritas, quebrava em diversos lugares, abria torneiras para atiradores a cada dois metros.

Domingos ordenou que batedores se aproximassem; esses caíram nos fossos que circundavam a fortificação e agonizaram, estrepados em puas de ferro que entravam pela virilha e saiam na garganta. Um dos subcomandantes lhe deu, então, a ideia de construir contra cercas de proteção, enquanto traçavam o plano final de ataque.

Foram erguidas, de troncos de árvores, rapidamente – cada uma com quinhentos metros. Na antemanhã de 23 de janeiro, mal se aquietou a lúgubre orquestra de sapos. Somente um capitão, com cinquenta homens, conseguiu sob uma chuva de flechas e balas encostar na muralha palmarina, atacando-a com machados. Os quilombolas, lá do alto, lhes abriam as cabeças com pedregulhos enormes, pescando os sobreviventes a gancho, pelas costas.

Fracassado o assalto, Domingos temeu pela própria segurança do seu acampamento. Mandou buscar reforços no Recife; vieram cerca de duzentos homens e seis canhões. Inútil, mesmo sob proteção das contra cercas, a distância continuava demasiada para o alcance dos canhões. Os pelouros caíam murchos, como bexigas de brinquedos, em terra de ninguém.

Na noite de 5 de fevereiro, a raiva de Jorge Velho cedeu vez à inteligência. Ela se sentou na rede, chamou os subcomandantes e traçou com um graveto, no chão, a única saída.

Imediatamente ordenou que começassem, em silêncio, a construção desta nova contra cerca, oblíqua à muralha palmarina. Deviam levá-la até encostar no grande precipício esquerda do Macaco, tão rápido que estivesse pronta ao clarear do dia seguinte. Então, veriam aqueles negros do diabo.

Quando, no meio da noite, Zumbi de Palmares descobriu o ardil de Jorge Velho, sua primeira providência foi executar o sentinela que não dera o alarme.

O desespero, talvez mais que a raiva, explica essa violência miúda no turbilhão de uma guerra total. Zumbi de Palmares estava mais uma vez encurralado e com uma única chance de escapar. Até quando teria que jogar aquele jogo sem fim? Há pelo menos 25 anos, ele, pessoalmente, ganhava e perdia batalhas. A guerra tinha, no entanto, cem anos – desde que aquele punhado de negros incendiou a fazenda do amo, no sul de Pernambuco, e se abrigou na Serra, fundando Palmares.
Zumbi juntou os comandantes e oficiais.

Possivelmente, então, lhes confessou o fracasso do plano que urdira, atrair o exército colonial em peso para uma grande batalha às portas da capital e massacrá-lo. Se perdessem, os sobreviventes poderiam recomeçar em outro lugar – eles seriam o novo Palmares. Se vencessem, o governo colonial ficaria de tal forma fraco e desmoralizado que aceitaria Palmares como nação soberana. Em qualquer dos casos, Palmares viveria.

Na beira do abismo, do lado ocidental da fortificação, restava uma passagem que o inimigo não tivera tempo de fechar.

Por ali sairiam os guerreiros – somente os guerreiros, sem mulheres e crianças – rápidos e mudos. Recompostos em algum ponto, recomeçariam a guerra.

Quando passaram os últimos, porém, rolaram pedras. Um mameluco abriu fogo sobre eles. Sem saber se combatiam ou escapavam, os guerreiros palmarinos se entrechocavam. Foi o pânico. Perto de duas centenas despencaram pela cratera sem fundo.

Jorge Velho não quis persegui-los. A caça melhor estava dentro. Mandou os canhões cuspirem fogo contra a cidadela. Pelos escombros da formidável parede, a multidão de índios, mamelucos e soldados finalmente penetrou em Palmares.

Na sua fúria nada deixaram de pé ou inteiro.

Isto foi apenas um resumo da história de Zumbi de Palmares. Comemoramos o 20 de novembro, não como a morte de Zumbi, mas sim como a verdadeira abolição da escravatura.

ZUMBI VIVE… AXÉ!