Mestre Pastinha

Não sabemos com certeza a origem da Capoeira Angola, alguns Mestres acreditam ter vindo da África, outros afirmam ter sido criada no Brasil pelos escravos africanos em ânsia de liberdade. Acredito que seja esta a origem, pois nem um pesquisador conseguiu encontrar nada que levasse a crer que a Capoeira Angola fosse africana. Apesar de sabermos que na África existia a “Dança de zebra”, ou N’Golo, que era praticado com bastante violência, fazia parte de um ritual onde os negros lutavam num pequeno recinto e os vencedores tinham como prêmio as meninas da tribo, que ficavam moças. Contam que, ainda hoje, existe um ritual semelhante em Katagun, na Nigéria.

O grande motivo pelo qual se torna difícil constatar se a origem da Capoeira é africana ou brasileira é o fato que o Ministro da Fazenda do governo de Deodoro da Fonseca, senhor Rui Barbosa, mandou queimar todos os documentos com relacionados a escravidão no Brasil após a abolição, afirmando que esse ato ajudaria a apagar da memória de nossa história o passado vergonhoso da escravidão. Na verdade, sabe-se que o grande motivo para tais atos eram questões financeiras, ligadas as indenizações que deveriam ser pagas aos antigos proprietários de escravos após a abolição da escravidão.

Capoeiristas que representaram o Brasil, em 1966, no 1° Festival Mundial de Arte Negra, em Dakar, sob o comando de Mestre Pastinha. Na foto: M. Pastinha, M. Gato, M. João Grande, M. Gildo Alfinete, M. Roberto Satanás e Camafeu de Oxossi – Arquivo: Gildo Alfinete

Os negros vindos para o Brasil eram em sua grande maioria da região de Angola. Diziam que esses povos eram mais ágeis, por terem estatura mediana e por isto rendiam melhor  no trabalho, fato também que seria notado no jogo da Capoeira.
Uma das origens do nome  “CAPOEIRA” estaria relacionado ao fato dos escravos fugirem para as matas, cujo nome é Capoeira, do vocábulo tupi-guarani”Caa-pueran” que significa mato ralo ou mata recém cortada. Os senhores mandavam os capitães-do-mato capturarem os escravos fugidos, no entanto, os negros os atacavam com pés, mãos e cabeça, dando-lhes surras ou até mesmo matando-os. Os capitães-do- mato que sobreviviam voltavam para os seus patrões indignados, e então eram indagados pelos Senhores:
-“Cadê os negros?”
e a resposta era:
– Nos pegaram na Capoeira”, referindo-se ao local onde foram vencidos.

A Capoeira no meio das matas era praticada como luta mortal, já nas fazendas ela era praticada como brinquedo inofensivo, pois ela estava sendo feita por baixo dos olhos dos Senhores de Engenho e dos Capitães-do-mato; e naquele momento se transformou em dança, pois ela precisava sobreviver, uma luta de resistência.

O nome Capoeira Angola surgiu quando o Senhor de Engenho flagrava os negros jogando, ele dizia: -” Os negros estão brincando de Angola”. Movimentos muito raros nas fazendas. Com as fugas em massa das fazendas, a Capoeira se afirmava como arma de defesa no meio das grandes matas, onde situavam-se os Quilombos.

Em 1888 a Lei Áurea aboliu a escravidão no Brasil e em 1890 baixou um decreto sobre a imigração que autorizava a entrada de africanos e asiáticos no País, somente mediante permissão do Congresso Nacional. A prática da Capoeira é incluída no Código Penal. Rui Barbosa decidiu queimar todos os documentos da escravidão no Brasil, mas a Capoeira resistiu apesar de ter sido usada por políticos para aterrorizar seus adversários. Ela sobreviveu e mais tarde transformou-se em cultura popular brasileira e com isto surgiram os grandes amantes da Capoeira Angola, como Besouro Mangangá, Valdemar da Paixão, Totonho de Maré, Cobrinha Verde, Canjiquinha, Caiçara, Atenilo, Nagé, Traíra, Pedro Mineiro, Porreta, Sete Morte, Bento Certeiro e o famoso Vicente Ferreira PASTINHA, que escolheu a Capoeira como a sua maneira de viver, praticou e ensinou a Capoeira Angola por muitos anos e fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, em Salvador/BA. Vicente Ferreira Pastinha, nasceu em 05 de abril de 1889, em Salvador.

Foi o maior nome da Capoeira Angola e hoje é citado como exemplo e referência da Capoeira Angola por vários escritores. Pastinha já foi a África mostrar a nossa Capoeira, no 1° Festival de Artes Negras no ano de 1966, com ele foram também: Mestre João Grande, Mestre Gato, Mestre Gildo Alfinete, Mestre Roberto Satanás e Camafeu de Oxóssi. Divulgou a Capoeira de Angola por quase todo País. Citado nos livros do grande Jorge Amado, Mestre Pastinha apareceu sempre como uma figura carismática. Faleceu em 13 de novembro de 1981 e deu muito de si para a Capoeira, mas morreu na miséria, sem ter sequer onde morar. Enquanto viveu para a Capoeira, ele procurou manter os fundamentos da Capoeira Angola e até implantou alguns de sua própria criação. Vale dizer até que ele implantou alguns fundamentos como as “Chamadas” para o passo à dois, as composições dos instrumentos e outros.

Mestre Zacarias Boa Morte, Mestre João Grande, Mestre Gildo Alfinete e Mestre João Pequeno

Antes de Mestre Pastinha abrir sua escola, a Capoeira não tinha uniformização e nem um método de ensino. As pessoas aprendiam de oitiva, como dizia o Mestre Bimba. As roupas usadas, eram de cor branca ou roupas comuns, alguns até descalço e outros calçados. Na escola de Mestre Pastinha, tinha um padrão, que era o uniforme preto e amarelo (pelo motivo do Mestre torcer pelo Ipiranga, um time de futebol da Bahia. Apesar de utilizar essas cores, ele próprio utilizava o branco) e calçado; tinha as suas “Chamadas”, as quais ele aprendera com seu mestre, um africano. Tentou manter os fundamentos da Capoeira que ele aprendeu, e hoje quando se fala de Capoeira Angola, se fala na Capoeira de Mestre Pastinha.

Associação Brasileira de Capoeira Angola

Bom, acredito eu que, a Capoeira é afro-brasileira, pois não concordo na teoria que ela seja somente africana. As pessoas têm mania de internacionalização, portanto quando dizemos que a Capoeira não é brasileira, estamos entregando o mérito de milhões de pessoas que sofreram e morreram para que hoje ela possa estar onde está. Já temos federações nacionais e internacionais de Capoeira, associações e até mesmo uma confederação.

Não vamos entregar agora a nossa luta, bem no meio do campo de batalha, pois a Capoeira tem muito para nos ensinar.

Esta é apenas minha opinião, pois afinal, para mim a Capoeira é afro-brasileira